segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O renascimento do pertencimento africano


















Não existe nenhuma outra nacionalidade para o povo preto se não a nacionalidade africana. Não há nenhuma outra identidade para o povo preto se não a identidade africana. Não há nenhum outro pertencimento. Nenhuma outra cultura. Nenhuma outra história. Se não for a africana. Nós somos africanos e pertencemos a civilização africana. Os nossos genes são africanos. Nossa alma é africana. Nosso legado é africano. Tudo que nos move e nos constitue é africano. Nosso Deus é africano!

Distanciados do que somos verdadeiramente, enquanto indivíduos e enquanto povo, nós pretos vamos seguindo nosso caminho sem rumo separados uns dos outros. Estamos separados pela língua do opressor branco, pela sua cultura, pela assimilação dos seus valores e comportamentos, pela sua religião, pelo seu nacionalismo, e por todas as mentiras que inventaram sobre quem nós, povo preto, somos. Ainda, estamos descentralizados do centro da nossa existência, que é África. Estamos fundamentando e centralizando nossas vidas nas ideologias infrutíferas dos nossos inimigos.

Precisamos encontrar a raiz africana que nos constitue para compreendermos verdadeiramente quem somos. Precisamos centralizar nossas ações fundamentais nas coisas e nas questões africanas para que possamos reconstruir nossa unidade racial. A construção do sentimento, e do pertencimento, de ser africano é fundamental para que nós consigamos fazer renascer a África e seus filhos e filhas. A nossa unidade e solidariedade - o internacionalismo preto - só será possível no dia que parte significativa dos indivíduos pretos de todo o mundo tiverem o seu "eu" subjetivo sincronizado com o "eu" coletivo, no que se refere a sua condição de seres pertencentes a civilização africana.

O povo preto necessita reencontrar a essência da sua existência. Precisa reencontrar a sua nacionalidade africana. O povo preto precisa se reconhecer, outa vez, enquanto cidadãos de uma única nação: a nação africana. A nossa Mãe está esperando o renascimento dos seus filhos e filhas. Nossa Gloriosa e Grandiosa Mãe está esperando pela volta dos seus filhos para casa. Ela está anciosa para ver este dia chegar. Pois quando este dia chegar, a vitória africana será certa. Renasçamos para África que sempre existiu em nós. Renasçamos para África que está fora de nós, a nos esperar.




domingo, 21 de dezembro de 2008

Poesia: Geraldo Bessa Victor



















"As raízes do nosso amor"

Amo-te porque tudo em ti me fala de África, duma forma completa e envolvente. Negra, tão negramente bela e moça, todo o teu ser me exprime a terra nossa, em nós presente.

Nos teus olhos eu vejo, como em caleidoscópio, madrugadas e noites e poentes tropicais, - visão que me inebria como um ópio, em magia de místicos duendes, e me torna encantado. (Perguntaram-me: onde vais? E não sei onde vou, só sei que tu me prendes...)

A tua voz é, tão perturbadoramente, a música dolente dos quissanges tangidos em noite escura e calma, que vibra nos meus sentidos e ressoa no fundo da minh'alma.

Quando me beijas sinto que provo ao mesmo tempo o gosto do caju, da manga e da goiaba, - sabor que vai da boca até às vísceras e nunca mais acaba...

O teu corpo, formoso sem disfarce, com teu andar dengoso, parece que se agita tal como se estivesse a requebrar-se nos ritmos da massemba e da rebita. E sinto que teu corpo, em lírico alvoroço, me desperta e me convida para um batuque só nosso, batuque da nossa vida.

Assim, onde te encontres (seja onde estiveres, por toda a parte onde o teu vulto fôr), eu te descubro e elejo entre as mulheres, ó minha negra belamente preta, ó minha irmã na cor, e, de braços abertos para o total amplexo, sem sombra de complexo, eu grito do mais fundo da minh'alma de poeta: - Meu amor! Meu amor!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Por Ben Okri

"África, com seu formato de coração, é o centro dos sentimentos do mundo. Continentes são metáforas, tanto quanto são locais. E os povos são estados espirituais de humanidade tão distinguíveis no que representam quanto os lírios, as rosas e os narcisos.

Será que esquecemos o que é a África? A África é a nossa terra dos sonhos, nossa terra natal espiritual.

Há um reino em cada ser humano que é a África. Todos temos a África dentro de nós. E assim, quando a África exterior está doente e com problemas, a África dentro de nós adoece de neurose. A quantidade total de neurose, de anorexia, de doenças psíquicas inexplicáveis no mundo possivelmente está ligada de forma indireta às doenças e problemas da África. Temos de curar a África em nós se quisermos ser completos novamente.

Temos de curar a África fora de nós se é para que a raça humana fique em paz de novo e de forma dinâmica. Há uma relação entre os problemas de um povo e os problemas no mundo e na atmosfera. Os problemas na África contribuem imensamente para o peso e o tamanho totais dos sofrimentos no mundo. E esse mundo em sofrimento envolve todos no planeta: afeta as crianças e sua saúde, afeta nosso sono, nossa ansiedade, nosso sofrimento desconhecido... Por isso, é possível sofrer sem saber.

Então, temos de curar a África em nós. Temos de redescobrir a verdadeira África, a África do riso, da alegria, da originalidade, do improviso; a África das lendas, das histórias, das brincadeiras; a África das cores brilhantes, da generosidade, da hospitalidade e da gentileza aos forasteiros; a África da imensa benevolência; a África da sabedoria, dos provérbios, da adivinhação, do paradoxo; a África da ingenuidade e da surpresa; a África da postura em quatro dimensões em relação à época; a África da magia, da fé, da paciência, da resistência, de um profundo conhecimento dos caminhos da natureza e dos ciclos secretos do destino (África criadora da civilização)

Temos de redescobrir a África. A primeira descoberta da África pelos europeus foi errada. Não foi uma descoberta. Foi um ato sem discernimento. Eles viram e transmitiram às futuras gerações uma África baseada no que achavam ser importante. Eles não viram a África. E essa não-visão da África é parte dos problemas de hoje. A África foi considerada do ponto de vista da ganância, do que poderia ser tirado dela. E o que você vê é o que você faz. O que você vê num povo é o que eventualmente você cria neles. É chegado o momento de uma nova visão. É tempo de limpar as trevas dos olhos do mundo ( branco ) ocidental."

Steve Biko - fragmentos da definição de consciência negra

"A Consciência Negra é, em essência, a percepção pelo homem negro da necessidade de juntar forças com seus irmãos em torno da causa de sua atuação – a negritude de sua pele – e de agir como um grupo, a fim de se libertarem das correntes que os prendem em uma servidão perpétua. Procura provar que é mentira considerar o negro uma aberração do “normal”, que é ser branco. É a manifestação de uma nova percepção de que, ao procurar fugir de si mesmos e imitar o branco, os negros estão insultando a inteligência de quem os criou negros. Portanto, a Consciência Negra toma conhecimento de que o plano de Deus deliberadamente criou o negro, negro. Procura infundir na comunidade negra um novo orgulho de si mesma, de seus esforços, seus sistemas de valores, sua cultura, religião e maneira de ver a vida.

A inter-relação entre a consciência do ser e o programa de emancipação é de importância primordial. Os negros não mais procuram reformar o sistema, porque isso implica aceitar os pontos principais sobre os quais o sistema foi construído. Os negros se acham mobilizados para transformar o sistema inteiro e fazer dele o que quiserem. Um empreendimento dessa importância só pode ser realizado numa atmosfera em que as pessoas estejam convencidas da verdade inerente à sua condição. Portanto, a libertação tem importância básica no conceito de Consciência Negra, pois não podemos ter consciência do que somos e ao mesmo tempo permanecermos em cativeiro. Queremos atingir o ser almejado, um ser livre.

O movimento em direção à Consciência Negra é um fenômeno que vem se manifestando em todo o chamado Terceiro Mundo. Não há dúvidas de que a discriminação contra o negro em todo o planeta tem origem na atitude de exploração, por parte do homem branco. Através da História, a colonização de países brancos pelos brancos resultou, na pior das hipóteses, numa simples fusão cultural ou geográfica, ou, na melhor, no abastardamento da linguagem. É verdade que a história das nações mais fracas é moldada pelas nações maiores, mas em nenhum lugar do mundo atual vemos brancos explorando brancos numa escala ainda que remotamente semelhante ao que ocorre na África do Sul. Por isso somos forçados a concluir que a exploração dos negros não é uma coincidência. Foi um plano deliberado que culminou no fato de até mesmo os chamados países independentes negros não terem atingido uma independência real.

Para a abordagem da Consciência Negra, reconhecemos a existência de uma força principal na África do Sul. Trata-se do racismo branco. Essa é a única força contra a qual todos nós temos de lutar. Ela opera com uma abrangência enervante, manifestando-se tanto na ofensiva quanto em nossa defesa. Até hoje seu maior aliado vem sendo nossa recusa em nos reunirmos em grupo, como negros, pois nos disseram que essa atitude é racista. Desse modo, enquanto nos perdemos cada vez mais num mundo incolor, com uma amorfa humanidade comum, os brancos encontram prazer e segurança em fortalecer o racismo branco e explorar ainda mais a mente e o corpo da massa de negros que não suspeitam de nada. Os seus agentes se encontram sempre entre nós, dizendo que é imoral nos fecharmos num casulo, que a resposta para nosso problema é o diálogo e que a existência do racismo branco em alguns setores é uma infelicidade, mas precisamos compreender que as coisas estão mudando. Na realidade esses são os piores racistas, porque se recusam a admitir nossa capacidade de saber o que queremos. Suas intenções são óbvias: desejam fazer o papel do barômetro pelo qual o resto da sociedade branca pode medir os sentimentos do mundo negro. Esse é o aspecto que nos faz acreditar na abrangência do poder branco, porque ele não só nos provoca, como também controla nossa resposta a essa provocação. Devemos prestar muita atenção neste ponto, pois muitas vezes passa despercebido para os que acreditam na existência de uns poucos brancos bons. Certamente há uns poucos brancos bons, do mesmo modo que há uns poucos negros maus. Mas o que nos interessa no momento são atitudes.

Precisamos eliminar de imediato a idéia de que a Consciência Negra é apenas uma metodologia ou um meio para se conseguir um fim. O que a consciência Negra procura fazer é produzir, como resultado final do processo, pessoas negras de verdade que não se considerem meros apêndices da sociedade branca. Essa verdade não pode ser revogada. Não precisamos pedir desculpas por isso, porque é verdade que os sistemas brancos vêm produzindo em todo mundo grande número de indivíduos sem consciência de que também são gente. Nossa fidelidade aos valores que estabelecemos para nós mesmo também não pode ser revogada, pois sempre será mentira aceitar que os valores brancos são necessariamente os melhores. Chegar a uma síntese só é possível com a participação na política de poder. Num dado momento, alguém terá que aceitar a verdade, e aqui acreditamos que nós é que temos a verdade."


Maya Angelou - poetisa














"Se a pessoa tiver sorte, uma fantasia solitária pode transformar-se totalmente em um milhão de realidades"

Agostinho Neto - Adeus à hora da largada

Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis

Mas a vida
matou em mim essa mística esperança

Eu já não espero
sou aquele por quem se espera

Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida

Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes

que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz elétrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome

com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos

Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura

Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Movimento pan-africano














O movimento pela libertação política, econômica, cultural e espiritual do povo preto, do mundo branco, é chamado movimento pan-africano. Nascido na Diáspora Preta, em fins do secúlo XIX e início do XX, com intuito de articular e organizar um movimento preto internacional, o movimento pan-africano foi a força motivadora para impulsionar a revolução africana pelo mundo. Com o surgimento do movimento pan-africano, a história do povo preto ao redor globo nunca mais foi a mesma.

O movimento pan-africano constituiu-se num cordão umbilical que possibilitou, pelo menos ideologicamente, a interseção dos povos africanos espelhados pelas Américas e pela Europa com a sua origem africana. O movimento pan-africano redimensinou a identidade preta, refloresceu o sentimento de pertecimento africano, trouxe à tona as verdades escondidas acerca do povo preto sucateadas pelo eurocentrismo e tornou-se um movimento internacional aglutinador de ideais libertárias e revolucionárias.

O movimento pan-africano é via política para construção da auto-determinação dos povos africanos do mundo. É o movimento pela libertação da África, e de seus filhos e filhas, do supremacismo branco. O movimento pan-africano visa a construção de Estados Africanos na Diáspora e/ou do retorno do povo preto para a Terra-Mãe reconstruída.

Ser pan-africano é se sentir pertecente a civilização africana. É se sentir parte integrante da mesma mesmo longe dela. É assumir o compromisso na luta pela libertação africana no mundo. É ajudar na construção dos Estados Unidos da África. É assumir a bandeira da revolução preta como símbolo de luta e resistência. Ser pan-africano é não se sujeitar aos interesses do povo branco e a sua exploração. É assumir o protagonismo no movimento pelo renascimento africano e na luta pela sua vitória.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Mulher preta, homem preto: a base da reconstrução de uma nação.


A reconstrução da nação preta, do povo preto, começa com a unificação sentimental. O renascimento africano está condicionado ao renascimento da família preta. A nossa reconstrução familiar é a base fundamental para fazer surgir uma nova raça, um novo povo.


Em nome do amor eu defendo a união preta. Em nome da união, eu defendo o amor preto.

O amor, elemento essencial da nossa unificação

"E se eu tiver o dom de profetizar e estiver familiarizado com todos os segredos sagrados e com todo conhecimento, e se eu tiver toda a fé, de modo a transplantar motanhas, mas não tiver amor, nada sou."

1 CO 13:2

Perseguindo o povo de Deus: o povo preto






























































































































Sabe o que significa isso? Você poderá dizer que isso é racismo. No entanto, eu te diria que você está certo, porém incompleto. Isso é muito mais que racismo. Os brancos perseguem os negros porque eles são inferiores a nós. Eles nos perseguem porque sabem que não foram escolhidos por Deus. Assim como eles crucificaram Jesus, e lhe deu uma aparência de um Deus morto, eles ainda continuam perseguindo e matando os filhos da Majestade Celestial.

Nós, povo preto, somos o povo original, originados a Imagem e Semelhança do Criador.
Somos um povo forte. Um povo resistente e batalhador. Por mais que eles tentem nos destruir e nos exterminar, eles não conseguirão. Porque só Deus pode destruir suas obras.

Ao contrário de nós, os brancos são um povo invejoso, frio e violento, pois por não possuirem a natureza humana celestial, eles promovem uma espécie de violência contra as gentes pretas do mundo.

Que as bençãos de amor de Deus nos alcance hoje, amanhã e sempre. Seremos livres. Nos unifiquemos para benefício de nós mesmos e pela nossa auto-afirmação humana.

Nossa continuidade - O fruto do nosso amor













Como iremos preservar a continuidade de nossa espécie se não nos relacionarmos entre a gente? Como preservaremos a nossa história, nossos valores, nossa cultura e todo nosso legado se nós nos misturamos com outras raças? Nós devemos permanecer com nós mesmos para preservamos tudo isso. Devemos preservar a integridade do nosso povo evitando a miscigenação racial. Devemos dar continuidade a nossa existência ficando entre nós. Vivendo e alimentando nossa pretitude, nossa africanidade, incondicionalmente. Diga não a miscigenação racial. Povo preto, preservemo-nos!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Celebrando a Kwanzaa


A partir do dia 26 de dezembro, até o dia 01 de janeiro, de todos os anos, - desde 1966 - milhões de pessoas pretas se reúnem ao redor do mundo para celebrar a Kwanzaa, uma espécie de confraternização africana milenar, resignificada pelo pan-africano Dr. Maulana Ron Karenga, criador da organização nacionalista preta United Slaves ( Escravos Unidos ) nos Estados Unidos.

A Kwanzaa tem suas origens na celebração das primeiras colheitas que eram feitas por diversos povos africanos. O nome é derivado da frase "ya Kwanza matunda", que significa "primeiros frutos" em suahili. Foi criada com o objetivo de reafirmar e restabelecer os laços de pertencimento do povo preto diaspórico, nos Estados Unidos, com a África e sua cultura. É, portanto, um movimento de renovação e reconstrução da personalidade africana em direção a sua auto-afirmação.

Kwanzaa venho para reforça o Nguzo Saba, ou seja, os setes princípios. Essa ênfase no Nguzo Saba, foi uma necessidade de se trazer à tona a importância dos valores comunitários africano, relacionados a família e a cultura, e para dar um redimensionamento ao significado do que é ser africano fora da África. Abaixo, o significado dos setes valores fundamentais da Kwanzaa:

a) Umoja = unidade;
b) kujichagulia = auto-determinação;
c) Ujima = trabalho coletivo e responsabilidade;
d) Ujamaa = cooperativismo econômico;
e) Nia = objetivo;
f) Kuumba = criatividade;
g) Imani = fé.

Estes princípios estão relacionados com os fundamentos comunitários africanos da: a) recolha das colheitas; b) reverência; c) comemoração; d) reconhecimento; e) festa.

a) um tempo de recolha das colheitas e de reafirmação dos laços entre os membros da comunidade.

b) um tempo de reverênciar ao Criador em agradecimento e respeito pelas bençãos, benignidades e beleza da criação.

c) um tempo para comemoração do passado em busca de suas lições e em honra de seus modelos de excelência humana, os nossos antepassados

d) um tempo do reconhecimento dos mais altos ideais da comunidade para formar um melhor pensamento africano e uma mais perfeita prática cultural.

e) um tempo para festejar o bom, o bom da vida e da existência em si, o bom da família, da comunidade e cultura, o bom fabuloso e ordinário, em outras palavras, o bom divino, natural e social.

Por fim, é importante dizer que a kwanzaa não é uma celebração religiosa, portanto, pode ser comemorada por pretos de todas as denominações religiosas e não-crentes. O que a Kwanzaa busca é a interação da comunidade preta em torno de uma rica e variada celebração ancestral africana resginificada para dar resposta as necessidades do presente.

Celebremos a Kwanzaa, e mantenhemo-nos conectados com os milhões de africanos e africanas espalhados pelo mundo. Façamos nossa celebração tradiconal invocando nossa ancestralidade, para que nós possamos seguir em frente através da sabedoria, força e luta deles no passado. Conspiremos através da celebração da Kwanzaa a libertação do povo preto de todo o mundo

http://www.officialkwanzaawebsite.org/index.shtml

Marcus Garvey: opiniões e filosofia 1














"Para um homem conhecer a si mesmo é preciso que ele saiba que não há um mestre humano. Para ele a natureza é sua serva, e tudo aquilo que ele desejar na natureza ele receberá. Se ele desejar ser um pigmeu, um servo ou um escravo, ele será. Se ele deseja ser um homem, então ele será seu próprio soberano. Quando o homem falha ao compreender sua autoridade, ele se rebaixa ao nível dos animais irracionais e tudo aquilo que o homem real oferecer, mesmo pertença aos animais irracionais, ele aceitará. Se ele disser "vai", ele vai. Se ele disser "vem", ele vem. Por este comando, ele desempenha as funções da vida da mesma maneira que, através de um comando similar, a mula, o cavalo e a vaca executam o desejo de seus senhores.


Pelos últimos quatrocentos anos, o negro tem estado na posição de ser comandado, da mesma maneira que os animais irracionais são controlados. Nossa raça tem estado sem uma vontade, sem próposito próprio, durante todo esse tempo. Por causa disso, nós desenvovlemos poucos homens capazes de entender o ardor da era que vivemos. Onde podemos encontrar nesta nossa raça homens verdadeiros? Homens de caráter, homens com determinação, homens confiantes, homens de fé, homens que realmente conhecem a si mesmos? Eu tenho me deparado com tantos fracos que se consideram líderes e que, ao examinar, descobri que eles não são nada além de escravos de uma classe mais nobre. Eles executam a vontade de seus senhores, sem questionar. Para mim, o homem não tem outro senhor além de Deus. O homem com sua autoridade é um senhor soberano e isso vale tanto para o homem individual como para a raça individual. Este sentimento faz o homem tão corajoso, tão ousado, que se torna impossível para seu irmão se intrometer em seus direitos.

Tão poucos de nós podem entender o que é preciso para fazer um Homem - o homem que nunca vai dizer "morrer", o homem que nunca vai desistir; o homem que nunca vai depender dos outros para fazer para ele o que ele deve fazer para si mesmo; o homem que não vai culpar Deus; o homem que não vai culpar a natureza; o homem que não vai culpar o destino por sua condição; o homem que não vai culpar a natureza; o homem que não vai culpar o destino por sua condição, mas o homem que vai sair e fazer com que as condições se adaptem a ele. Oh, quão repugnante a vida se torna quando em cada lugar você escuta pessoas ( que tem sua imagem, que tem sua semelhança ) dizer que eles não podem fazer nada, que o destino está contra eles, que eles não podem aproveitar as oportunidades.

Se 400 milhões de negros pudessem somente conhecer a si mesmos, saber que neles há uma força soberana, uma autoridade absoluta, então nas próximas vinte e quatro horas nós teriamos uma nova raça, nós teríamos uma nação, um império - ressurgido não pela vontade dos outros de nos ver crescer, mas por nossa própria determinação para crescer, independente do que o mundo pensa."

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"Nós somos os descendentes dos homens e mulheres que neste país sofreram durante duzentos e cinquenta anos debaixo daquela brutal e bárbara instituição conhecida como escravidão. Você que não perdeu o caminho de nossa história recordará o fato de que há aproximadamente 300 anos atrás os seus antepassados foram trazidos do grande continente chamado África com o próposito de serem usados como escravos. Sem nenhum mercê, sem nenhuma simpatia eles fizeram nossos antepassados trabalharem. Eles sofreram, sangraram e morreram. Mas com seu sofrimento, com seu sangue, derramado até a morte, eles tinham a esperança que um dia seus descendentes seriam livres. Nós estamos reunidos esta noite porque somos as crianças da esperança deles. Esta nossa raça já criou civilizações, arte, literatura e cultura.

Uma raça pode notavelmente ocupar e dominar durante séculos, mas chega a hora que ela cede lugar para outra. Nós africanos já ocupamos uma posição elevada no mundo, cientificamente, artisticamente e comercialmente. Mas no balanço da grande evolução humana, nós perdemos nosso lugar que agora é ocupado por outros que não nós. Deus nunca quis que o homem escravizasse seu semelhante e o preço de tal violação das leis do céu tem que ser pago por todos.

Sim, nós estimamos as dores do passado, e nós vamos trabalhar no presente para que as dores de nossa geração não sejam perpetuadas no futuro pelas gerações vindouras. Ao contrário, nós vamos nos empenhar para que as gerações futuras nos chamem de abençoados, assim como nós chamamos as nossas gerações passadas. Elas foram abençoadas com uma paciência jamais conhecida pelo homem. Uma paciência que permitiu que eles suportassem as torturas e sofrimentos da escravidão por anos. Porque? Será que foi porque eles gostaram da escravidão? Não! Foi porque eles amavam esta geração - isto não é maravilhoso. Transcedente!

O que vamos fazer para mostrar nosso apreço por tal amor, que gratidão vamos manifestar em resposta ao que eles nos tem feito? De minha parte, sabedor do sofrimento de meus antepassados, eu procurarei dar a África, aquela liberdade que ela conheceu centenas de anos atrás, antes de seus filhos e filhas terem sidos arrancados de suas costas e trazidos à correntes para o ocidente. Nenhuma dádiva melhor posso eu dar em honra a memória e ao amor que meus antepassados me dedicaram. Em gratidão ao sofrimento que eles surportaram e de que hoje sou livre, nenhuma dádiva maior posso eu oferecer a sagrada memória de nossa geração passada do que uma África liberta e redimida - um monumento para a eternidade - para todos os tempos..."


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O Louvor Africano de Batalha - Marcus Garvey


O sol africano está brilhando acima do horizonte,
O dia está surgindo para nós, homens e mulheres pretas ao redor do mundo;
Nosso Deus está na linha da frente, e conduz o Batalhão Santo,
Avante, faça suas bandeiras brilharem, irmãos de nobres ações.

Há uma bandeira que nós amamos verdadeiramente -
O vermelho, o preto e verde,
Maior emblema que pode ser declarado,
A mais brilhante já vista.

Quando o mal for rompido, a terra vai tremer,
Nem oceanos, mares, nem lagos estarão a salvo,
O nosso sofrimento foi muito longo, nosso choro subiu até o trono de Deus;
Temos contados diversos erros, e apelamos por uma mudança efetiva.

Então, Senhor, deixe-nos ir para a batalha, com a Cruz na frente;
Vamos ver nossos inimigos sucumbirem, ver suas fileiras se dividir
Porque com Deus não há qualquer obstáculo que não possa ser ultrapassado,
Nem vitória que não possa ser alcançada.

Todos os filhos de Deus, seja na angústia ou nos castigos,
Não importa onde, com misericórdia, seu amor está lá;
Então dei-nos coragem para alegres cantar louvores ao Rei, O Salvador, Cristo, o Senhor.

OH, África, vitória! Veja, o inimigo vai cair!
Cristo levar-nos a vestir a coroa triunfante;
Jesus, lembramos com carinho o sacrifício da cruz,
Então levantamos as nossas bandeiras para nunca mais sofrer.


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A nossa luta contra o inimigo branco.
















Acredito que não há um lugar no mundo onde possamos viver incondicionalmante nossa condição plena de homens e mulheres de origem africana. Não existe um lugar que possamos dizer que somos completamentes livres da opressão e dominação branca. Nem mesmo nossa abençoada África está livre disso. O mundo que o povo branco criou prá nós é um verdadeiro inferno. Eles nos impuseram uma condição existêncial tão perversa que não enxergamos uma saída própria e viável para fora deste inferno. E se nós vivemos num inferno criado por eles, eles não teriam nenhuma outra denominação a não ser de governantes demôniacos. O poder que o povo branco possui é um poder do mal, um poder de injustiças, um poder auto-destruitivo.

Desde a muito tempo, nós africanos vivemos como coadjuvantes da história branca. Somos os curatelados de um modelo de civilização onde o grande pai, inteligente e bondoso, é o homem branco, que na essência da verdade da coisa, é um ser incorrigível e perverso de natureza. O povo branco é um povo mentiroso, genocida, maniaco, violento e egocêntrico. Eles não se importam com a condição humana dos diferentes deles. Eles não se importam verdadeiramente com as condições que eles criaram para os outros povos porque eles estão numa situação de conforto. Eles não tem a sensibilidade humana porque são seres frios, incapazes de desenvolver um sentimento humano capaz de se sentir pertecentes a uma coletividade. O supremacismo branco, aliado ao centralismo, são frutos de um povo que desde a sua origem só pensa no poder.


Os brancos matam por causa do poder que querem. Os brancos promovem toda uma espécie de destruição por causa do poder. Eles promovem a guerra. Eles promovem o conflito. Eles promovem o desentendimento. Eles promovem um monte de coisas ruins em nome do poder que querem estabelecer para eles mesmo. E nós pretos, sabemos disso. Nós sentimos a perversão do povo branco. Nós sentimos a sua violência. Sentimos a sua prepotência e arrogância. Sentimos que este mundo branco não foi feito para nós, por isso não nos contempla. Sabemos que existir como preto no mundo dos brancos é viver pior do que os animais domésticos que eles possuem em seus palácios.

A grande armadilha da civilização branca foi a sua educação, que nos acorrentou nos seus falsos princípios morais e éticos. Reproduzimos as inverdades brancas sobre um mundo onde todos serão iguais e viveram uma fraternidade humana porque aprendemos em suas escolas, em suas igrejas, em suas mídias, que o caminho natural das coisas é esse. No entanto, acredito piamente, que o caminho natural é o estabelecimento cada vez mais eficaz da opressão branca com relação aos não-brancos, ao ponto de emergir inevitavelmente um conflito racial decisivo para a história da humanidade. Não haverá nenhuma igualdade no mundo se o povo preto não compreender que esta igualdade só será possível se ele se unir contra o verdadeiro opressor. Não haverá nenhuma fraternidade humana se o povo preto não entender a incapcidade natural do povo branco de produzir justiça.

Para que nós possamos nos livrar deste inferno, não é preciso que fiquemos esperando uma sensibilidade do dono deste inferno. Não é interessante que fiquemos esperando uma decisão fundamental do carcereiro. É preciso que nós partemos para o enfretamento. É preciso que nós destruamos as grandes que nos aprisiona e, se possível, destruamos até mesmo o carcereiro. Para que nós possamos sair deste inferno, é preciso que tenhamos como referência as coisas dos céus, pois as coisas dos céus é que nos guiará com o espiríto de verdade e justiça em direção ao estabelecimento da nossa libertação. E nossa libertação real é o estabelecimento do Poder Preto para um povo preto. Essa deve ser nossa luta rumo a libertação.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O protagonismo negro sob a ótica pan-africana

















A nossa revolução não visa à permanência do poder verde (capitalista). Assim como não visa trazer à tona o poder vermelho (socialista / comunista). A nossa revolução é pelo Poder Negro. E por ser pelo Poder Negro, entre o verde e o vermelho existe o amarelo, simbolizando o nosso movimento pela libertação negra mundial.


Agora que nós, militantes negros, começamos a construir uma visão de mundo nossa, a nos levantar contra a alienação de nossa gente, a resgatar o orgulho de nossa ancestralidade e legado histórico, justo agora, os nossos algozes, das diversas tendências, vem nos rotular de “racistas ao contrário”. Agora que começamos a afirmar nossa identidade africana diaspórica, a construir uma concepção política, social e econômica afrocentrada, eles vêm nos carimbar de “supremacistas”. A bem da verdade, o que eles não querem ver é o povo negro fazendo o que eles historicamente fizeram e fazem, ou seja, eles não querem nos ver “auto-suficiente”. Sejam os brancos de direita, do centro, ou da esquerda, todos se sentem incorfomados com uma visão de mundo resgatada, valorizada e resignificada oriunda das nossas experiências de vida enquanto povo. Para eles, nossa(s) cosmovisão(ões) é inútil, por tanto, infrutífera, não trazendo nenhum benéfico para a humanidade.

Além dos nossos algozes, tem os reacionários negros, os conformistas, defensores da mais moderna ideologia de dominação branca, travestida de democracia e direitos humanos universais. Estes são os primeiros a defender a “genial” tendência natural para constituição de uma sociedade diversificada, justa, igualitária e equilibrada, onde todo o poder continuaria concentrado nas mãos dos históricos opressores. E isso ocorre justamente quando começamos a afirmar que este modelo de sociedade que está aí é falido e não nos serve. Quando começamos a afirmar que queremos um outro modelo de sociedade, onde a maioria negra tenha o poder em suas mãos e decidam o tipo de relações humanas que devem ser estabelecidas na sociedade para o bem comum, eles, nossos próprios irmãos, vem afirmar, parecendo os algozes, que queremos “reverter os quadros de opressão”. Mas como são ingênuos nossos irmãos!

Na verdade, o que queremos é o mesmo que o branco tem concentrado em suas mãos. Mas não queremos tudo, queremos a maior parte, pois ela nos pertence. Foi-nos roubada para servir de luxo para eles. E quem tem mais do que necessita, fruto dos esforços dos outros, é um verdadeiro ladrão. Hoje, não tem mais razão de ser a nossa crença no “homem” branco. Não acreditamos mais que ele irá cooperar com a gente e reparar o grosseiro erro histórico que cometeram. Até porque se passaram mais de 500 anos da nossa estadia aqui na sua “bendita civilização”, que iria nos libertar do “paganismo” e “atraso” na África, mas as coisas só têm piorado para nós ao longo de todos estes anos, produto dos seus mais modernos e catastróficos mecanismos de opressão. Portanto, negam-nos os direitos fundamentais para saciar, as nossas custas, a sua ganância por riqueza e poder. Mas a confiança que ainda tínhamos em suas ilusões, está se acabando. A avalanche da desconfiança toma conta do nosso povo. Ao mesmo tempo, descobrimos que estamos por nossa própria conta em risco, pois estamos compreendendo que se nós não fizermos nada por nós mesmos, quem nos domina não fará.

Neste últimos anos, temos compreendido que a nossa luta não é só contra o capitalismo, mais também contra qualquer espécie de supremacismo branco, até mesmo o supremacismo branco vindo da ideologia socialista ou comunista. E por mais que venham nos rotular de “racistas ao contrário”, termo este utilizado para sufocar qualquer espécie de levante negro, de “supremacistas”, o que não queremos ser, e de “subversores dos quadros de opressão”, o que também não nos interessa, nós não retrocederemos. Agora compreendemos a necessidade de começarmos a caminhar com as nossas próprias pernas. Compreendemos a real necessidade de sermos os protagonistas das transformações necessárias para o soerguimento de nossa gente. Compreendemos que devemos criar e desenvolver nossas próprias instituições (escolas, universidades, empresas, etc.) e gesta-las. E, sabemos que devemos começar a assumir o controle da nossa comunidade. Ainda, o mais importante, começamos a sentir a necessidade de discutir não só um novo projeto político para o povo negro, mais também um novo projeto econômico e social, um novo projeto de família negra, um novo projeto de espiritualidade e moralidade negra, e, também, um novo projeto psicológico. Tudo isso fazendo parte de um novo projeto de vida do povo negro para o povo negro.

A geração pan-africana é símbolo de resistência, subversão e renovação. É a geração que luta pela libertação racial. Acreditamos incondicionalmente nisso. Assim como compreendemos que a nossa luta é internacional. Sabemos que devemos nos organizar a nível mundial, construindo laços de solidariedade e unidade com os povos negros espalhados pelo mundo para superação dos problemas comuns e incomuns, e para reconstrução do continente africano, nossa Terra-Mãe. Para além disso, buscamos a autodeterminação da nossa gente, pois reafirmamos, diuturnamente, que a libertação de toda a humanidade está totalmente associada e condicionada a libertação negra, ou seja, dos povos de origem africana. Finalizo sintetizando o exposto com a seguinte estória: Imaginem vocês que estamos num vôo, dentro de uma aeronave, onde todos os pilotos são brancos e que todos os passageiros são pessoas não-brancas, majoritariamente negras. Somos então os coadjuvantes de uma aventura espacial onde quem possui o controle sobre as nossas vidas são pessoas loucas, desequilibradas e sem senso de humanidade para com o próximo. Daí nos desesperamos, pois descobrimos que estamos num vôo suicida, onde os pilotos não estão nem aí para suas vidas, muito menos para as nossas, mas sim, fanáticos pela aventura. Daí compreendemos os riscos.

Consequentemente surge à pergunta: O que vamos fazer? Bem, só temos duas alternativas. Ou aceitamos nossa condição de coadjuvantes, por conseguinte, morreremos todos.Ou, em outra via, lutamos para assumir o controle da aeronave, para salvar as nossas vidas e a de todos os outros passageiros, assim como a dos pilotos brancos. O pan-africanismo está representado pela última alternativa. Qual alternativa você prefere? Acreditamos que o amor é o elemento fundamental para reestruturação e elevação da comunidade negra, precisamos fortalecer o sentimento de pertencimento a um grandioso povo.