segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O protagonismo negro sob a ótica pan-africana

















A nossa revolução não visa à permanência do poder verde (capitalista). Assim como não visa trazer à tona o poder vermelho (socialista / comunista). A nossa revolução é pelo Poder Negro. E por ser pelo Poder Negro, entre o verde e o vermelho existe o amarelo, simbolizando o nosso movimento pela libertação negra mundial.


Agora que nós, militantes negros, começamos a construir uma visão de mundo nossa, a nos levantar contra a alienação de nossa gente, a resgatar o orgulho de nossa ancestralidade e legado histórico, justo agora, os nossos algozes, das diversas tendências, vem nos rotular de “racistas ao contrário”. Agora que começamos a afirmar nossa identidade africana diaspórica, a construir uma concepção política, social e econômica afrocentrada, eles vêm nos carimbar de “supremacistas”. A bem da verdade, o que eles não querem ver é o povo negro fazendo o que eles historicamente fizeram e fazem, ou seja, eles não querem nos ver “auto-suficiente”. Sejam os brancos de direita, do centro, ou da esquerda, todos se sentem incorfomados com uma visão de mundo resgatada, valorizada e resignificada oriunda das nossas experiências de vida enquanto povo. Para eles, nossa(s) cosmovisão(ões) é inútil, por tanto, infrutífera, não trazendo nenhum benéfico para a humanidade.

Além dos nossos algozes, tem os reacionários negros, os conformistas, defensores da mais moderna ideologia de dominação branca, travestida de democracia e direitos humanos universais. Estes são os primeiros a defender a “genial” tendência natural para constituição de uma sociedade diversificada, justa, igualitária e equilibrada, onde todo o poder continuaria concentrado nas mãos dos históricos opressores. E isso ocorre justamente quando começamos a afirmar que este modelo de sociedade que está aí é falido e não nos serve. Quando começamos a afirmar que queremos um outro modelo de sociedade, onde a maioria negra tenha o poder em suas mãos e decidam o tipo de relações humanas que devem ser estabelecidas na sociedade para o bem comum, eles, nossos próprios irmãos, vem afirmar, parecendo os algozes, que queremos “reverter os quadros de opressão”. Mas como são ingênuos nossos irmãos!

Na verdade, o que queremos é o mesmo que o branco tem concentrado em suas mãos. Mas não queremos tudo, queremos a maior parte, pois ela nos pertence. Foi-nos roubada para servir de luxo para eles. E quem tem mais do que necessita, fruto dos esforços dos outros, é um verdadeiro ladrão. Hoje, não tem mais razão de ser a nossa crença no “homem” branco. Não acreditamos mais que ele irá cooperar com a gente e reparar o grosseiro erro histórico que cometeram. Até porque se passaram mais de 500 anos da nossa estadia aqui na sua “bendita civilização”, que iria nos libertar do “paganismo” e “atraso” na África, mas as coisas só têm piorado para nós ao longo de todos estes anos, produto dos seus mais modernos e catastróficos mecanismos de opressão. Portanto, negam-nos os direitos fundamentais para saciar, as nossas custas, a sua ganância por riqueza e poder. Mas a confiança que ainda tínhamos em suas ilusões, está se acabando. A avalanche da desconfiança toma conta do nosso povo. Ao mesmo tempo, descobrimos que estamos por nossa própria conta em risco, pois estamos compreendendo que se nós não fizermos nada por nós mesmos, quem nos domina não fará.

Neste últimos anos, temos compreendido que a nossa luta não é só contra o capitalismo, mais também contra qualquer espécie de supremacismo branco, até mesmo o supremacismo branco vindo da ideologia socialista ou comunista. E por mais que venham nos rotular de “racistas ao contrário”, termo este utilizado para sufocar qualquer espécie de levante negro, de “supremacistas”, o que não queremos ser, e de “subversores dos quadros de opressão”, o que também não nos interessa, nós não retrocederemos. Agora compreendemos a necessidade de começarmos a caminhar com as nossas próprias pernas. Compreendemos a real necessidade de sermos os protagonistas das transformações necessárias para o soerguimento de nossa gente. Compreendemos que devemos criar e desenvolver nossas próprias instituições (escolas, universidades, empresas, etc.) e gesta-las. E, sabemos que devemos começar a assumir o controle da nossa comunidade. Ainda, o mais importante, começamos a sentir a necessidade de discutir não só um novo projeto político para o povo negro, mais também um novo projeto econômico e social, um novo projeto de família negra, um novo projeto de espiritualidade e moralidade negra, e, também, um novo projeto psicológico. Tudo isso fazendo parte de um novo projeto de vida do povo negro para o povo negro.

A geração pan-africana é símbolo de resistência, subversão e renovação. É a geração que luta pela libertação racial. Acreditamos incondicionalmente nisso. Assim como compreendemos que a nossa luta é internacional. Sabemos que devemos nos organizar a nível mundial, construindo laços de solidariedade e unidade com os povos negros espalhados pelo mundo para superação dos problemas comuns e incomuns, e para reconstrução do continente africano, nossa Terra-Mãe. Para além disso, buscamos a autodeterminação da nossa gente, pois reafirmamos, diuturnamente, que a libertação de toda a humanidade está totalmente associada e condicionada a libertação negra, ou seja, dos povos de origem africana. Finalizo sintetizando o exposto com a seguinte estória: Imaginem vocês que estamos num vôo, dentro de uma aeronave, onde todos os pilotos são brancos e que todos os passageiros são pessoas não-brancas, majoritariamente negras. Somos então os coadjuvantes de uma aventura espacial onde quem possui o controle sobre as nossas vidas são pessoas loucas, desequilibradas e sem senso de humanidade para com o próximo. Daí nos desesperamos, pois descobrimos que estamos num vôo suicida, onde os pilotos não estão nem aí para suas vidas, muito menos para as nossas, mas sim, fanáticos pela aventura. Daí compreendemos os riscos.

Consequentemente surge à pergunta: O que vamos fazer? Bem, só temos duas alternativas. Ou aceitamos nossa condição de coadjuvantes, por conseguinte, morreremos todos.Ou, em outra via, lutamos para assumir o controle da aeronave, para salvar as nossas vidas e a de todos os outros passageiros, assim como a dos pilotos brancos. O pan-africanismo está representado pela última alternativa. Qual alternativa você prefere? Acreditamos que o amor é o elemento fundamental para reestruturação e elevação da comunidade negra, precisamos fortalecer o sentimento de pertencimento a um grandioso povo.

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